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#81 - DRAG JISAS, A HISTÓRIA DE DAISY

"Revelação de Jesus Cristo, (...) que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Aquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados..."
Apocalipse 1:01 e 05


Abriu sua Bíblia no primeiro capítulo de Apocalipse, a revelação de Jesus, em suas vestes de luz e língua como espada de fogo... Liindo!! Seria assim sua fantasia, a última da vida de rua, - vou de drag-jisas. 

Daisy era um travesti. Tinha peito de implantes, era alto, magro e desengonçado. Não sei como começou na homossexualidade, mas disse que tinha sede de Deus desde antes. Quando criança passeava na igreja católica com sua mãe e viu um caixão de vidro com uma estátua de Jesus dentro. Igreja do Jesus morto, a mãe era devota. Quando chegaram perto, ele pirralho sentiu que Jesus lhe olhava. 

– Mãe Jesus está vivo!

– Pare de dizer besteira menino... - ela não viu, mas ele soube desde aquele dia para sempre, que Jesus não estava morto.

Adulto, Daisy foi se desiludindo consigo mesmo numa sede que não terminava por outro tipo de vida apesar de ter tudo o que um traveco podia desejar. Até parceiro e filho adotivo tinha. Ligava o rádio na sintonia dos pentecostais. Ouvia o dia inteiro, músicas, pregações, não se cansava nem da repetição nem dos chavões. Ouvia até a hora de sair para ganhar a vida na rua. Tornou-se um hábito ouvir o evangelho. O parceiro e os vizinhos se irritavam. Daisy ficava mais amuado, mais convicto. Começou a ler a Bíblia. 

Uma noite não agüentou mais. Não tenho coração pra levar a vida assim. Decidiu-se seria aquela sua última noite na rua. Ouviu o rádio e pegou a Bíblia. Abriu no primeiro capítulo de Apocalipse, a revelação de Jesus, em suas vestes de luz e língua como espada de fogo... Liindo!! Seria assim sua fantasia, a última da vida de rua, - vou de drag-jisas. 

Enfeitou-se todo de branco e dourado, reverente. Não era uma drag qualquer, era o próprio Jesus de uma maneira simbólica dizendo-lhe que chegou sua hora de mudar. Não conseguiu fazer a vida naquela noite, pregava sem parar como os pregadores do rádio que ouvira tanto tempo. Pregava para as prostitutas, para os clientes, para os passantes. O ponto se esvaziou, os habituais corriam para não ouvi-lo. Finalmente no romper da manhã, tendo arruinado a noite de todos os freqüentadores do ponto, sentou-se feliz cantando alguma daquelas músicas de “sai demônios e vem Jesus”. 

Logo depois Daisy adoeceu e descobriu-se portador do vírus HIV. Estranhamente não teve medo. A irmã conhecia algumas pessoas em BH, e resolveu dar uma passada por lá para ver se encontrava ajuda para a doença. A vida tem seus caminhos e ao receber a medicação Daisy encontrou também algumas pessoas do grupo VHIVER que ajuda portadores do vírus a viver com qualidade. De lá esbarrou nos crentes da Caverna de Adulão e conheceu o Jesus que amava. 

Se converteu, destravecou-se, homenzou-se do melhor jeito que pôde. O parceiro tinha ficado no Rio com o filhinho adotivo, teve que dizer-lhe que era homem agora, cuidaria do filho mas já não seria “casado”. Sentiu-se puro como um bebê, dizia que já tinha feito sexo demais a vida toda, agora não precisava mais, iria viver para Deus de todo seu coração... 

Mas não podia ficar em BH, tinha que voltar ao Rio. O Geraldo, da Caverna, se preocupou. E agora, o que vai ser de Daisy, quem vai entendê-lo para integrá-lo, nesta altura Daisy já se chamava como homem, mas os trejeitos de uma vida no submundo não saem fácil, as marcas ficam, as mãos na cintura o andar reboloso, a voz ainda fina desafina. 

Daisy voltou para o subúrbio do Rio. Despachou o parceiro, pegou suas coisas, mudou-se. Mas aí veio a parte dura. Conseguir um emprego, se sustentar de maneira digna, encontrar uma igreja onde fosse aceito. Nas primeiras semanas e meses não tinha quase dinheiro, a única congregação do bairro era o lugar mais perto. As emoções de Daisy ainda eram as emoções de uma caricatura de mulher. Ia à igreja esperando amor como encontrara em BH, aceitação compreensão. No começo encontrava o porteiro. 

– “Tem culto hoje não, desculpe.” 

- “Ah...” - o ar decepcionado de Daisy não mudava em nada a cara do porteiro. Infelizmente a igreja não conseguiu entender o rapaz. Daisy, tentou mais uma e mais outra. Mas o que aconteceria se no bairro vissem aquele homem com peitos ainda, freqüentando os cultos? Terminou por entender que não era bem-vindo, mais uma ferida para carregar para quem já sofreu tantas.

Sem ajuda na fé e sem apoio econômico e social para recomeçar, a fé de Daisy se apagou. Geraldo o viu um dia destes nas páginas de uma revista militando pela causa homossexual, e respirou aliviado pensando que pelo menos vivo ele ainda está... 

Daisy se você está lendo isto, tente outra vez. Vamos aprender a caminhar com você pelo caminho da restauração, vamos aprender a fazer da sua vergonha a nossa vergonha e pelo nosso amor, fortalecer a sua fé naquele que nos transforma. 

Publicado na revista Ultimato em julho de 2005 e também no site da JOCUM;
Bráulia Inês Ribeiro é pioneira no Norte do Brasil trabalhando entres tribos indígenas é Mestre em Etno-linguística em Lingüística Antropológica pela Universidade Federal de Rondônia, missionária de Jovens Com Uma Missão desde 1980, autora do livro Chamado Radical (Editora Atos).

Fogo para Missões

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1 Comentários

  1. Estou sem palavras diante desta história,que, infelizmente, deve estar se repetindo neste momento em algum lugar do mundo. Vamos orar por este rapaz, Geraldo, Deus terá misericórdia. Lembre-se de Filipenses 1:6. Tenho certeza que esta obra é boa, logo, Jesus a completará.

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